Comentário Crítico
O trabalho em enfermagem sofreu uma intensa mudança nas últimas décadas devido a uma verdadeira explosão das instituições de ensino superior em enfermagem ocasionando uma mudança abrupta na dinâmica do mercado de trabalho. Concomitante a esse crescimento tivemos a regulamentação da profissão, o estabelecimento das atribuições concernentes às práticas do enfermeiro e uma série de medidas que deram maior legitimidade a uma das áreas de saúde mais antigas.
O setor privado se destaca sendo maioria gritante entre as IES de enfermagem com liderança de 80 % das vagas (INEP, 2014), mostrando uma tendência de profissionais formados dentro de uma lógica do capital o qual não atende aos interesses de um sistema publico de saúde. Apesar do sistema privado não ser preponderante no quesito mercado de trabalho ele representa uma quantidade muito próxima se comparado ao número de empregos públicos. Isso reafirma a incoerência de um sistema que deveria atuar de forma complementar, como é o caso do SAMS, mas que atua com um contingente de trabalhadores muito similar ao SUS e de forma competitiva.
Diante dessa dicotomia publico-privado temos um mercado de trabalho que está superfaturado de enfermeiros, conforme uma pesquisa realizada pela Fiocruz em 2015, que relatou uma dificuldade em encontrar emprego para 65,9% dos profissionais. Mesmo com abertura e ampliação constante de novos PSFs o contingente de enfermeiros trabalha em sua maior parte em hospitais os quais segundo dados do Conselho Nacional de Saúde (2016) são 70% privados. Logo, podemos concluir que tanto a formação como a inserção no mercado de trabalho está se afirmando no setor privado, representando uma grave ameaça ao nosso Sistema Único de Saúde.
Outra dificuldade colocada em relação à inserção dos novos profissionais do mercado foi a defasagem entre o que é ensinado nas universidades e as realidade da atenção em saúde. Os estudantes têm saído despreparados para a realidade dos serviços de saúde e com uma visão fechada da sua atuação sem compreender o papel dos demais profissionais dificultando assim o trabalho multiprofissional que é essencial para o atendimento integral previsto nas diretrizes do SUS.
Para contornar tais questões como a mercantilização do trabalho em saúde, ocasionado pelas instituições privadas, e a visão unidirecional da profissão temos uma nova modalidade de curso superior “capaz de fomentar a formação dos estudantes universitários em eixos ou temas relevantes da cultura contemporânea” (ALMEIDA FILHO, 2007, p.4). Os Bacharelados Interdisciplinares abrangem as três culturas identificadas como eixos principais do saberes e práticas contemporâneas sendo: cultura humanística; cultura artística; cultura científica.
O Bacharelado Interdisciplinar em Saúde possui todo um embasamento teórico voltado para a área de saúde coletiva com enfoque no SUS. Trazendo o conceito ampliado de saúde, promoção e prevenção, humanização, práticas alternativa, multicasualidade, determinantes sociais e uma visão sobre a atuação das diversas profissões de saúde já que o curso lhe da acesso as 14 áreas de saúde. Além dessa visão ampliada sobre as profissões e as práticas em saúde temos uma formação crítica construída por meio de discussões da situação atual dos diversos assuntos e uma vivência de outras áreas diferente da nossa trazendo uma percepção da realidade mais abrangente.
Uma vez que um estudante do BI egresse para um curso de Enfermagem sua formação será completamente distinta da de um estudante que entrou via vestibular. Ele terá toda uma base em saúde pública, voltado para atuação no sistema público, com uma visão crítico-reflexivo, tendo a saúde como direito com uma compreensão além da sua área de atuação e sabendo trabalhar com distintos campos de atuação. Formando assim um profissional mais capacitado a atender as especificidades de um enfermeiro previsto pela Diretriz Curricular.
TAMILIS SOUZA NASCIMENTO- DICENTE EM BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE
Bibliografia
DE ALMEIDA FILHO, Naomar. As três culturas na universidade nova. Ponto de Acesso, v. 1, n. 1, 2007.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP), Sinopse Estatística da Educação Superior 2014, Brasília: INEP 2016.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, CNS, Hospitais do Brasil, 2016. Disponível em : < http://www.cns.org.br/links/DADOS_DO_SETOR.htm> Acessado em: 22 de Abril de 2016.